A Assembleia Municipal do Porto, Portugal, aprovou a proposta para “atribuição da Medalha de Mérito Municipal, Grau Ouro, a Sindika Dokolo”, porque este “permitiu à Câmara apresentar a exposição ‘You Love Me, You Love Me Not'”.
Por Orlando Castro
A proposta é da Câmara e recebeu 40 votos a favor, quatro contra e uma abstenção. Quem se seguirá? A lista é enorme. À outrora mui nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto não faltarão apoios nesta matéria. Eventualmente até a rainha Santa Isabel (dos Santos, esposa de Sindika Dokolo) poderá trazer ao burgo uma exposição sobre a multiplicação dos ovos.
Admite-se também que o próprio sogro de Sindika Dokolo, José Eduardo dos Santos, apresente no Porto uma exposição sobre a arte de ser presidente da República desde 1979 sem nunca ter sido nominalmente eleito.
Casado (muito bem casado – diga-se) com Isabel dos Santos – cuja fortuna pessoal está avaliada em 3,3 mil milhões de dólares, o congolês Sindika Dokolo é considerado o maior coleccionador de arte africana contemporânea (“cerca de três mil obras”). Aliás, no clã Eduardo dos Santos, tudo é em grande. Até mesmo o número de famintos do reino.
O homenageado, que certamente terá um dia destes o privilégio de ver o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, propor a edificação de uma estátua ao seu sogro, cedeu a sua colecção para ser exposta na Galeria Municipal Almeida Garrett, a partir da próxima quinta-feira, “suportando, além do mais, necessidades logísticas e financeiras essenciais à sua concretização”.
A deputada Adriana Aguiar Branco, do grupo municipal Porto, O Nosso Partido, apoiante do presidente da Câmara, Rui Moreira, elogiou a política cultural do actual executivo e a proposta apresentada. Claro. A indústria da bajulação e das lavandarias está a dar empregos a muita gente.
“Pouco importa a origem da colecção. O que importa é o valor intrínseco desta colecção”, referiu Adriana Aguiar Branco. É isso mesmo. Pouco importa se a origem do dinheiro resulta dos diamantes de sangue, do petróleo roubado, da corrupção, do branqueamento, da lavagem de capitais. O importante é o valor intrínseco dos dólares que tudo compram.
O Bloco de Esquerda, que votou contra a proposta, considerou “fantástico ter sido possível chegar a esta exposição”, mas disse haver “uma banalização” na atribuição de distinções municipais. A bloquista Ada Pereira da Silva afirmou ainda que “não há justificação” para atribuir aquela medalha a Sindika Dokolo e à sua fundação, alegando que “há apenas um começo” na relação com o município.
O PSD defendeu, segundo a Lusa, que a atribuição deste tipo de galardões deve ser aprovada por “unanimidade”, também disse que se está a “banalizar” este tipo de medalhas e acrescentou que, neste caso, a Câmara podia ter proposto apenas “o reconhecimento do município”. “Não está em causa a pessoa em si”, frisou o deputado social-democrata Luís Artur.
Pois. Tanto medinho. Com o rabinho entre as pernas, cientes da sua amovível coluna vertebral, ninguém ousou dizer que com esta iniciativa estão a transformar o Porto num reles bordel ao serviço de todo o género de lavagens. Se o país se transformou numa enorme aldeia da roupa… suja, então estão bem servidos.